Enfatizo diariamente o papel da família como geradora da ética. A ela caberá, mais e mais, a cada dia que passa, a grande, a enorme responsabilidade de arcar com esta árdua, porém essencial, tarefa social. Constato, porém, perplexa, que esta meta se torna mais e mais difícil de ser alcançada.

      E por quê? Porque diariamente em cada família, em cada casa, mais e mais pessoas questionam a validade de lutar por certos objetivos que, há bem pouco tempo, jamais eram questionados. A que objetivos me refiro? Exatamente àqueles que, no seu conjunto, irão constituir a gênese da ética, a base moral dos nossos filhos.

     Na maioria das vezes, os pais agem movidos pelo mais legítimo e verdadeiro desejo de acertar, de dar aos filhos o que de melhor eles têm. Nem sempre, porém, o conseguem. Tomemos, por exemplo, a situação vivida atualmente pelos brasileiros. Como se sentem os pais vendo tudo a sua volta desmoronar? Se grande parte de nossos dirigentes mostra -se cada vez mais corrompida e corruptível, se o valor maior que parece imperar é apenas o de acumular mais e mais bens materiais, se o respeito pelo outro parece a cada instante diminuir, se a impunidade campeia, se o justo paga pelo pecador, se a lei parece proteger os que a violam, se a honestidade é premiada com o desprezo e a desconfiança, pensam os pais, como transmitir os velhos valores aos filhos? E para quê, se perguntam.

    Quantas vezes por dia vemos a falta de civilidade e de respeito ocorrerem?

     Afinal, até que ponto pode o ser humano tolerar passivamente os desmandos generalizados a que vem assistindo no decorrer das últimas décadas? Enquanto veem seus filhos morrendo de fome, as camadas populares assistem aos exageros de gastos, corrupção, impunidade e ostentação de outros. O que se vê, o mais das vezes, é a substituição paulatina de valores como responsabilidade social, desejo de contribuir positivamente com a sociedade e os menos favorecidos, honestidade, lealdade, integridade, cooperação, solidariedade, honra, respeito e valorização dos mais velhos, por outros, como desejo de subir na escala social a qualquer preço, imediatismo, materialismo, egocentrismo, utilitarismo, individualismo, vaidade, sem que se perceba que é nesse mesmo mundo que nossos filhos terão que viver. O mundo que estamos construindo será constituído de indivíduos mais ou menos semelhantes àqueles que estamos criando dentro de nossos lares. Portanto, é bom não pensarmos somente no prazer imediato de nossos filhos, e, abandonando uma postura excessivamente psicologizante, adotarmos uma postura sociológica, pensando no global da sociedade.

     Se nossos propósitos são de proteção aos nossos filhos, não esperemos que, primeiro, nossos vizinhos, amigos e parentes comecem a agir eticamente, para, só então, o fazermos também. A ação ética é uma decisão de foro íntimo, não carece de aprovação dos demais. Quando acreditamos de fato nos nossos valores, não precisamos, nem queremos aprovação nem o reconhecimento alheio. Eles passam a fazer parte de nós mesmos, constituem o nosso próprio ser, e todas as nossas ações decorrem de e para eles.   Sempre lembrando que o objetivo maior da educação é dotar nossos filhos de capacidade de reflexão e análise, de poder de decisão, calcado em valores morais e éticos, que os afastarão de grande parte dos perigos dessa vida…